janeiro 09, 2015
Atualmente, a pacata vila da Nazaré é considerada um destino obrigatório para os amantes do surf. De facto, as suas furiosas ondas têm corrido mundo e muitos são os surfistas destemidos que, vindos dos quatro cantos do mundo, ousam desafiar estas águas bravas.
No entanto, Nazaré não é apenas sinónimo de ondas. Nazaré é sinónimo de tradição. E nem as multidões turísticas que chegam à vila desde o início do século XX, e a tornaram num dos destinos turísticos mais atraentes em Portugal, a fazem mudar. Sendo uma pequena vila de pescadores, a Nazaré mantém viva uma das mais genuínas tradições portuguesas.
Na verdade, a sua gente sempre foi muito ligada ao mar. Não para surfar as enormes ondas do grande desfiladeiro, mas porque o trabalho assim o exigia. Hoje em dia, o turismo é o principal fator de crescimento económico da vila, mas durante muitos anos a pesca foi a atividade principal. E, no seio de algumas famílias, ainda continua a ser a única fonte de sustento.
Assim, todas as manhãs por volta das 06:00 horas, a pequena vila acorda e os homens vão para o mar. No Inverno ainda é de noite mas, corajosos, lançam os pequenos barcos às águas frias e navegam em busca do peixe mais fresco. É, de certo, uma profissão arriscada.
As mulheres, as chamadas nazarenas, não vão para o mar mas têm as suas tarefas bem definidas. Ficam esperando seus homens na praia e o peixe que lhes vai dar o (pouco) dinheiro para viverem. Logo que os homens voltam da pesca os leilões de peixe começam e a diversidade é uma dádiva. Aqui vai poder encontrar o peixe mais fresco, desde sardinhas aos caranguejos ou a vários tipos de moluscos.
Aqui as mulheres brilham, pois elas sabem vender o peixe melhor do que ninguém. E para além disso, elas chamam à atenção com as suas sete saias – outra tradição. Há várias lendas associadas às saias das mulheres. Uma dela diz que as mulheres, enquanto esperavam seus maridos na praia nos dias frios, usavam várias camadas de saias para aquecerem as costas e as pernas e, assim, manterem-se quentes.
Para além disso, diz-se que são sete as saias que elas devem usar pois sete são as virtudes, sete são os dias da semana, sete são as cores-do-arco-íris, sete são as ondas do mar, entre outras lendas e mitos associados ao número sete.
A tradição leva igualmente os barcos a manterem a sua estrutura original. São coloridos, estreitos, com proas curvas e decoração evocativa dos primeiros pescadores da Região: o povo fenício.
E se você tiver sorte, vai conseguir ver os pequenos barcos de madeira coloridos a descarregar o peixe fresco que foi pescado naquele mesmo dia e observar a velha tradição dos pescadores, colocando a cavala e a sardinha para secar sobre redes puxadas firmemente em torno de molduras de madeira sob o intenso sol do meio-dia. Uma das imagens de marca da Nazaré.
Mas a tradição não está, apenas, no mar. Em cada rua podemos sentir o tempo a voltar atrás. Por entre as ruelas com cheiro a maresia, podemos apreciar a vida familiar: retalhos de lavandaria ao vento, crianças a jogar futebol, o cheiro a refeição quente e tradicional vindo das pequenas cozinhas. Aqui a vida é simples. Sem exageradas ou requintadas decorações mas muito cómoda.
Esta é, também, uma gente muito ligada à religião. É, de facto, necessário rezar para que tudo corra bem quando se vai para o mar: os homens têm a coragem, as mulheres a fé em seu regresso. E nos dias de mau augúrio, o areal transforma-se num autêntico santuário de orações.
Por isso mesmo, podemos sentir sentimentos religiosos por toda a parte. Bênçãos e procissão são muito frequentes na cidade. E escondido na Igreja do chamado Sítio (um promontório rochoso a mais de 100 metros acima da parte principal da cidade), podemos encontrar uma pequena imagem negra de Nossa Senhora da Nazaré. De acordo com a lenda, esta imagem foi esculpida por São José, o carpinteiro, e trazida para a Nazaré em 711.
É incrível como este lugar que ainda consegue manter viva a mais pura tradição esteja tão próximo das cidades cosmopolitas de Portugal. Partindo da capital, Lisboa, bastam duas horas de viagem pela costa atlântica em direção ao Norte para alcançarmos a vila da Nazaré.
Para além de paisagens estupendas na viagem, ao chegar à Nazaré vai sentir o tempo parar. É um local que vale a pena conhecer, por conseguir mostrar a mais pura essência portuguesa: o trabalho duro e arriscado de um povo que muito tanto tem para agradecer (e temer) ao mar.
Por isso mesmo, visite a Nazaré! E se quiser usufruir ao máximo do que a Nazaré tem de melhor, junte-se a um roteiro por esta vila e simplesmente…desfrute!